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5 de março de 2005

Fruta fora de época 

Devido aos desvarios climatéricos, as bancas de legumes transbordam de variedades de frutos fora da sua época normal. Deixo aqui alguns exemplos, para aguçar o apetite dos apreciadores.

Melão - É o fruto da moda, sobretudo após a venda da Lusomundo à Controlinveste. Aparentemente, a onda de perplexidade que varreu o mundo dos media rebateu-se nos melões. Não é caso para menos. Entre tantos candidatos insignes (chegaram a contar-se doze) aos títulos da noiva, logo haveria de ser escolhido o plebeu Joaquim Oliveira, esse self-made man oriundo dos tenebrosos meios desportivos, desprovido de prefixos onomásticos (dom, doutor, engenheiro ou comendador) e desconhecido da socialite lisboeta! Pois bem, o patrão de O Jogo e da Sport TV bateu toda a concorrência sem apelo nem agravo.

Na verdade, o desenlace era previsível. Na ausência de sentimentos fortes por parte da noiva, a mãe Portugal Telecom já tinha dado a entender que a decisão seria rápida e que o eleito seria aquele que avançasse com o maior dote e as melhores garantias. O garbo e os pergaminhos dos candidatos só serviriam como critério de desempate. Para desespero dos favoritos, Joaquim Oliveira venceu nos 90 minutos de jogo e não precisou de prolongamentos.

Limão - Para as bandas do banco central, o sabor dominante é o do limão. Então não é que o novo governo se prepara para adjudicar ao Banco de Portugal mais uma penosa empreitada de auditoria às contas públicas? Com a agravante de o trabalho se adivinhar especialmente laborioso, dada a sofisticação contabilística introduzida nos últimos três anos da governação. E se os governos se habituam a solicitar exames sistemáticos à escrita? Como escolher entre a lima e o limão?

Não, a nobre missão do banco central é simplesmente estudar a conjuntura e supervisionar os rácios do sector bancário. Já chega de incumbências. Quem quer auditorias, que as pague, seja ao Tribunal de Contas, seja a uma empresa privada. Caso contrário, o Banco de Portugal, visivelmente carente de recursos, será obrigado a terciarizar grande parte da sua actividade produtiva. A contragosto, naturalmente.

Banana - É o fruto mais apetecido no Ministério da Saúde. Uns passam o tempo à espera da acção das leis da gravidade sobre os ramos das bananeiras, outros divertem-se a espalhar as cascas pelos corredores, em busca de emoções fortes. Veja-se o topete da Unidade de Missão dos Hospitais SA ao ignorar o concurso lançado pelo Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (IGIFS), com o argumento de que os procedimentos do IGIFS eram demasiado morosos. Com franqueza, será que é criticável o facto de a comissão de avaliação não se reunir há dois meses? Será que é preciso explicar à Unidade de Missão que o Estado obtém enormes ganhos de eficiência através da centralização das compras? Ou que os processos na máquina pública não foram feitos para ser céleres? Tenham juízo e descansem enquanto é tempo.

Strawberry - Eis o mais popular dos frutos lusitanos de exportação. No mercado britânico, o sucesso é total - José Mourinho transformou-se no morango de estimação das súbditas de Sua Majestade. Numa recente edição, o tabloide The Sun dedicava duas páginas de conselhos às mulheres inglesas sobre como aproximarem o look dos seus maridos ao do irreverente treinador português. Em jeito de demonstração, um manequim-repórter exibia um corte de cabelo e um traje à Mourinho - sobretudo abotoado, cachecol e mãos nos bolsos. Faltava-lhe a displicência latina e o ar silvestre do artigo original, mas fica a sensação de que a indústria inglesa está a trabalhar afincadamente na procura de um produto substituto. A ameaça é bem visível. Registe-se a patente quanto antes.

Luís Nazaré, in Jornal de Negócios, 3 de Março de 2005

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